QUEM DIRIA, LITTLE BIG HORN
FICA EM PORTO ALEGRE
Podemos imaginar o cenário. O General
Custer, movido por mesquinhas e desprezíveis ambições políticas rumo ao Capitólio,
mal acompanhado de alguns comparsas, cercam o índio, surpreendido em sua terra nativa
exercendo o seu sagrado direito à vida, mata-o a socos, ferro e fogo, fazendo da covardia
uma virtuosa manobra militar.
Pouco tempo depois,
Cavalo Louco, diante de uma invejável estratégia de combate, ausente
dos currículos de guerra de West Point, deu o troco mais famoso da história índia
americana, emboscando Cabelo-de-Fogo em Little BigHorn, dizimando o tristemente famoso
General George Armstrong Custer
e todos os seus asseclas matadores de indígenas.
Quando observamos o curso da história
americana, fica difícil não estabelecer um paralelo entre os fundamentos perversos dos
acontecimentos chocantes dos precedentes do massacre da famosa batalha e das seqüências
dos Custers brasileiros, moendo até a morte, covardemente, índios, geralmente dormindo
ao relento em algum canto qualquer do país.
Ou procuram, por mera repetição
destes fatos, tendo a certeza da posterior impunidade do crime cometido em nome da
barbárie, liquidar um avô-índio de 77 anos e atear fogo em um Galdino dormindo, ou
talvez, por um simples exercício de imaginação, movidos por um sentimento inexplicável
de vingança, partem ferozes para a prorrogação de Little Big Horn.
O que talvez seja
mais surpreendente nestes tristes episódios, seja a absoluta ausência de sentimentos de
humanidade que jovens sem antecedentes criminais, selecionam um alvo de morte com a mesma
facilidade de quem quebra uma lâmpada na via pública ou comete um outro delito
reprovável de menor expressão, dotados da consciência moral de uma barata.
Quantos Galdinos
serão ainda covardemente queimados, mortos com requintes de atrocidade para que o Jovem
Custer não mais os confunda com insetos nocivos que precisam ser exterminados em nome da
diversão, imaginando-os como semelhantes, supondo um mínimo de racionalidade em suas
mentes criminosas.
Por outro lado, na
sociedade das desigualdades sociais, as raízes desta barbárie têm suas sementes
plantadas no terreno do preconceito e da discriminação que, por muitas vezes, por miopia
social ou eventualmente por hipocrisia, teima-se em negar a sua óbvia existência.
A ameaça e a agressão situam-se como
delitos de maior expressão nas delegacias policiais brasileiras, sendo a lesão corporal
seguida de morte como possível decorrência proporcional desta violência. Constatamos
que a presença preventiva da polícia na maioria destes casos seria praticamente
impossível, pois estamos tratando com o mais absoluto acaso. Da imprevisibilidade de uma
nova mente criminosa que mata por entretenimento, apenas laços familiares, civilidade e
educação escolar eficiente podem preventivamente defender o Índio, defende-lo do Custer Brasileiro.
Poster parcial do filme Clássico
"With General Custer at Little Big Horn"
Isnard Martins é professor do Departamento
de Engenharia Industrial da PUC-Rio
|